O RITUAL FÚNEBRE

Em todas as religiões, em todas as culturas, sempre existiram rituais de passagem realizados quando da extinção da vida física. É o reconhecimento instintivo que o homem faz do papel da morte como elemento transformador da natureza e do próprio homem.

Na Umbanda não poderia ser diferente, tanto mais por se tratar de uma religião que compreende de modo mais abrangente a jornada que será empreendida pelo espírito em sua nova condição.

Por essa razão, é aconselhável que, tanto quanto possível, a pessoa que se encontre em seus últimos momentos possa receber o ofício religioso de um dirigente umbandista que lhe possa aplicar um passe, dizer-lhe palavras de alento, pronunciar com ela uma prece e clamar o auxílio dos mentores a recebê-la, ampará-la e guiá-la em seus primeiros momentos de retorno à pátria espiritual. É o correspondente à extrema unção.

Se, contudo, isso não for possível, é aconselhável que o ofício religioso seja ministrado durante o velório. Sobre isso, nos diz Omolubá:

“ A cerimônia de extrema unção poderá ser efetuada nos últimos instantes da guarda do corpo físico na cova.

(...)

Cabe ao sacerdote dizer algumas palavras acerca da nova jornada que aquele espírito tem a realizar. As palavras então ditas pelo sacerdote devem ser confortantes, capazes de emprestar um envolvimento aos que lhe ouvem, trazendo paz e compreensão da Lei imutável a que todos nós estamos sujeitos, Nascimento e Morte.

É comum a prece de 7, 14 ou 21 dias no terreiro.

Na extrema-unção é facultativo o entoar de cânticos à Almas e aos Orixás.” (OMOLUBÁ, 2004: p. 106)

Em última análise, o  ritual fúnebre é equiparável a um gesto de caridade, quando se vai oferecer um conforto espiritual a quem não há mais nada que possa ser oferecido. A presença dos mentores nesse momento se presta a auxiliar no trabalho de desenlace, de quebra dos últimos liames energéticos que ainda prendem o espírito à matéria, a fim de facilitar a libertação do espírito.

Esses são, portanto, os rituais mais comuns e costumeiros dentro da prática umbandista. Muitos outros ainda são levados a efeito em nome da Umbanda, mas há os que são desnecessários e inclusive aqueles que fogem completamente aos domínios da filosofia umbandista, estando mais afeitos aos ritos de nação ou a outras tendências religiosas.

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O CASAMENTO

A exemplo do que acontece na quase totalidade das religiões existentes no planeta, embora poucos saibam disso, a Umbanda também possui o seu ritual ou cerimônia de casamento. Não poderia ser diferente, pois o fato de tantas visões religiosas entenderem o casamento como um sacramento decorre da importância que ele possui na estrutura social do planeta. Não se pense apenas na função reprodutiva tendente a perpetuar a espécie, pois que para isso não é necessário o casamento, afinal os animais se reproduzem todos os dias sem precisarem se casar, embora algumas espécies – mais evoluídas que alguns humanos – permaneçam com o mesmo parceiro ou parceira pela vida inteira.

Deve-se pensar na necessidade de estruturação familiar que permita aos descendentes desfrutarem de um referencial seguro de sua condição humana, através do convívio com um pai e uma mãe que se amem e que saibam fazer do amor o ponto de partida e de chegada para todas as demandas da vida.

Essa função do casamento que, sem dúvida o torna importantíssimo na senda evolutiva, tanto dos cônjuges, quanto de seus descendentes, tem por si só o condão de torná-lo um sacramento, principalmente para os padrões de uma religião que se fundamente na evolução constante e na necessidade de aprimoramento pelo amor e pela caridade.

A cerimônia de casamento é bastante simples, como aliás devem ser todas as cerimônias na Umbanda. Falando sobre casamento em sua obra Fundamentos de umbanda, Omolubá afirma o seguinte:

“A  cerimônia do casamento tem lugar diante do sacerdote de Umbanda, devidamente sacramentado, o qual abençoa os nubentes que se escolheram mutuamente, vindo, portanto, obter o beneplácito do religioso, através desta solenidade.

O sacerdote declara aos noivos que a partir daí são responsáveis ante o poder religioso e social e que, dessa união advém o dever moral a que ficaram submissos, bem como as virtudes que decorrerem desse ato, tais como: fidelidade, companheirismo, respeito, tolerância, amor e tudo quanto possa resultar de fortalecimento, de bom e útil desta jornada que ambos intentam.

Na Umbanda só é exercido o Sacramento do Casamento, quando os nubentes estão em plena concordância com as leis do país.” (OMOLUBÁ, 2004: p. 105)

Essa visão apresenta várias facetas do casamento umbandista, que merecem ser comentadas. Ei-las:

Em primeiro lugar, ele afirma que a cerimônia tem lugar diante do sacerdote de Umbanda. Ora, muitas casas não adotam a figura do sacerdote strictu sensu, por isso seria mais aconselhável entendermos que a cerimônia tem lugar perante o dirigente da reunião.

Em segundo lugar, afirma também que o sacerdote “abençoa” os nubentes, numa alusão clara ao fato de que aquela cerimônia corresponde claramente a uma bênção que é concedida aos noivos e é exatamente essa a função, uma vez que as entidades estarão ali presentes, vibrando favoravelmente e criando uma atmosfera de harmonia e de paz, dirigindo suas preces para que os noivos tenham firmeza para conduzir até o fim o compromisso que estão abraçando.

Em quarto lugar, afirma que o casamento só é realizado quando os nubentes estão em plena concordância com as leis do país. Isso significa que não se podem referendar nos rituais de Umbanda, situações que não sejam legalmente admitidas. Implica, portanto, que não se farão cerimônias de casamento de pessoas ainda casadas civilmente, de pessoas do mesmo sexo, nem que se enquadrem em qualquer das situações que o Código Civil elenca como impeditivas para o casamento.

Há que se observar ainda – e isso é muito importante – que, durante muito tempo, o casamento na Umbanda foi apenas uma cerimônia de casamento religioso, de modo que, aqueles que por ele optassem, deveriam fazer antes o seu casamento civil e depois se submeterem à cerimônia na Umbanda. Recentemente, contudo, começaram a ser celebrados em terreiros de umbanda casamentos com efeitos civis, a exemplo das igrejas tradicionais.

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O BATISMO

Assim como tantas outras religiões, a Umbanda possui um batismo. Comumente o batismo é entendido como um renascimento, nas palavras do Evangelho de João (João 3:5) onde o indivíduo pelo arrependimento se torna isento dos pecados, passando a viver uma nova vida com Cristo.

Os umbandistas tem claro que não existe pecado, da forma como esse é entendido pela maioria das igrejas cristãs. Ainda que existisse, não seria um simples arrependimento que conduziria ao perdão dos mesmos, afinal Deus é pai, mas também é justo.

Assim, é correto afirmar que todos nós somos imperfeitos, falíveis, todos praticamos atos condenáveis aos olhos de Deus e da sociedade. Todo ato culpável acarreta um débito e reclama uma reparação. O arrependimento é, sem dúvida, um grande passo para nosso aperfeiçoamento, na medida em que nos prepara para não voltarmos a cometer os mesmos erros, mas a reparação continua sendo devida, pois o erro causa um desequilíbrio na Lei de Harmonia Universal e o equilíbrio tem que ser restabelecido.

Assim não existe batismo redentor, livrando-nos do pecado e nos introduzindo em uma nova vida. Isso é figura de retórica e tem uma boa aceitação, porque conduz ao comodismo, eximindo a tantos da necessidade de resgatar e reparar os erros cometidos.

O batismo na Umbanda possui uma outra natureza filosófica: quando ministrado a crianças incapazes de manifestar sua vontade, representa uma consagração daquele ser às hostes umbandistas. Como essa decisão não pode ser tomada pelos pais em nome dos filhos, para que seja válido, reclama uma confirmação, tão logo o indivíduo complete vinte e um anos.

Por outro lado, quando ministrado a um adulto, o batismo corresponde a um ato expresso de conversão. Inplica num conhecimento relativamente profundo dos princípios que regem a Umbanda e, consequentemente, uma aceitação desses princípios como elementos norteadores de conduta em todas as ocasiões da vida.

Na Umbanda, ao aceitar o batismo, o indivíduo está dizendo para si mesmo e para os outros: "conheço a Umbanda e seus princípios e concordo com todos, estou disposto a participar do trabalho empreendido pelos mensageiros da Corrente Astral de Umbanda, na construção de um mundo melhor". Esse é o sentido. A partir daí, as entidades passam a contar com aquele indivíduo de modo mais completo e efetivo, face à evidente opção que ele fez de servir.

É uma cerimônia que deve primar pela simplicidade, sendo realizada numa cachoeira, ou numa praia, onde, sob o comando do dirigente do terreiro, o batizando manifestará expressamente sua concordância com os princípios umbandistas e sua concordância em servir a Deus nas hostes da Umbanda Sagrada, após o que terá sua cabeça colocada sob a água, como forma de selar aquela opção e aquele compromisso.

O Dirigente não deverá estar mediunizado, mas as entidades estarão presentes vibrando sobre aquele que está se batizando e administrando energias renovadoras e vivificantes.

Inúmeras casas determinam que o batizando confeccione uma toalha de batismo, que deverá acompanhá-lo, posteriormente em todos os atos que praticar na Umbanda. De nossa parte entendemos que o ato vale por seu conteúdo implícito, sendo dispensáveis quaisquer exterioridades, contudo nenhum mal existe na confecção da dita toalha ficando a critério do batizando fazê-la, ou não.

Após o batismo que corresponde ao primeiro ato de iniciação nas fileiras umbandistas, o recém-batizado poderá confeccionar sua guia de Oxalá, para usar durante a realização dos trabalhos mediúnicos, daí por diante.

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OS PONTOS RISCADOS

Em praticamente todos os terreiros de Umbanda, as entidades quando chegam utilizam de uma pedra de giz bruto, conhecida como “pemba”, para traçarem no chão, ou em tábuas alguns sinais, a princípio ininteligíveis para os leigos. Esses sinais são chamados de “pontos riscados” e sua confecção, longe de ser aleatória, obedece a um padrão previamente definido que só é conhecido pelas entidades e pelos iniciados na Doutrina Umbandista. Esse padrão é conhecido como “Lei de Pemba”, ou ainda “Grafia dos Orixás”.

Na prática, todas as entidades que trabalham na Corrente Astral de Umbanda tem seu próprio ponto e, todas elas obedecem à Lei de Pemba, pois é um código reconhecido entre os espíritos de um modo geral que serve, tanto para fazer a identificação da entidade comunicante, quanto para estabelecer ordenações de trabalho que deverão ser seguidas por todos os subordinados àquela entidade que estejam atuando naquele momento dentro do terreiro, incluídos aí os espíritos oriundos da Quimbanda e, até mesmo os elementais.

Apesar disso, é comum encontrarmos, em muitas casas, pontos riscados que apresentam motivos diversos, como lanças, escudos, arcos, machadinhas, estrelas, luas, espadas, cruzes e tantos outros que nada tem a ver com os sinais traçados na verdadeira Lei de Pemba. Há muitas razões para que isso aconteça e, entre as mais comuns, encontramos o animismo de médiuns conscientes que preferem, eles mesmos, criarem os pontos de suas entidades, sem possuírem qualquer conhecimento da verdadeira Grafia dos Orixás.

Todo o traçado dos pontos se destina, em primeiro lugar, a fazer a identificação da entidade comunicante e, para isso, existem apenas três conjuntos de sinais que, quando devidamente conjugados, são capazes de identificar qualquer entidade da Corrente Astral de Umbanda. Também aqui a simplicidade impera.

Já sabemos que as entidades que se manifestam em Umbanda são sempre Caboclos, Pretos Velhos, Crianças e Exus (além, é claro, das falanges auxiliares, mas essas são um caso a parte). É o que chamamos de “banda”, sendo possível falar de “banda de caboclos”, “banda de pretos velhos”, etc. Sabemos também que todos eles estão vinculados inexoravelmente a uma das sete linhas, ou seja: Caboclos nas linhas de Oxalá, Ogum, Xangô, Oxossi e Iemanjá; Pretos Velhos na linha de Yorimá e Crianças na linha de Yori. Essas linhas são hierarquizadas e uma entidade pode estar no grau de Orixá menor, de guia, ou de protetor. Além disso, todos estão inseridos dentro de legiões, falanges e grupamentos. Um verdadeiro ponto riscado, que obedeça sistematicamente a Grafia dos Orixás, irá sempre identificar todas essas características.

Os três conjuntos de sinais são assim divididos:

- Sinal de flecha: indica a banda

- Sinal de chave: indica a linha.

- Sinal de raiz: indica a hierarquia, a legião, a falange, o grupamento, etc. Além disso, os sinais de raiz podem ainda indicar algumas funções específicas que as entidades possuam, bem como tarefas específicas que haja para serem realizadas.

Entre os Exus os sinais obedecem aos mesmos parâmetros, por isso os tradicionais tridentes, punhais, e outras extravagâncias que vemos comumente nada tem a ver com os verdadeiros sinais riscados da Lei de Pemba. Acontece que o traçado das flechas nas linhas de Exu e a maneira como elas se cruzam podem, em dado momento se assemelhar a um tridente. A partir daí a imaginação popular e o sincretismo religioso que durante tantos anos transformaram nossos queridos irmãos Exus e Pomba-Giras em demônios , encarregaram-se de enxergar uma profusão de tridentes, por um processo de associação de idéias com a figura lendária do diabo que carrega um desse garfos, provavelmente para espetar seus desafetos. É a velha e cruel superstição.

Posteriormente estaremos publicando outros artigos nos quais pretendemos falar com mais detalhes sobre os sinais e trazer maiores explicações. O assunto é complexo e amplo demais para ser tratado num único tópico. Além disso o objetivo desse tópico é principalmente o de trazer à tona a verdadeira Grafia dos Orixás e desmistificar os pontos simbólicos que tanto vemos por aí, mas que, na prática nada significam.

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O AMACI

O amaci é um ritual realizado pelos médiuns de Umbanda com o objetivo de fixar as energias dos mentores diretos no chacra coronário do médium que a ele se está submetendo.

É um procedimento de grande importância, porque sua realização favorece a sintonia do médium com as entidades que trabalham através dele.

Difere dos banhos de fixação por três razões distintas: em primeiro lugar, o amaci não é exatamente um banho, mas uma lavagem de cabeça. Em segundo lugar, nos banhos de fixação as ervas são fervidas na água que será utilizado para o banho, enquanto que no amaci as ervas são maceradas e misturadas à água que irá servir para lavar a cabeça do médium. Em terceiro lugar, os banhos de fixação são tomados em casa, enquanto que o amaci deve ser feito exclusivamente no terreiro, sob a vibração de uma corrente mediúnica e comandado pelo dirigente do terreiro, incorporado ou não.

O amaci deve ser considerado como uma obrigação e não é feito com a frequência com que são tomados os banhos de fixação, sendo que cada casa adota uma frequência própria para a realização de seus amacis, sendo a mais comum a anual.

Também deve ser levado em consideração que o amaci geralmente é aplicado em médiuns que se encontrem num estágio mais avançado em relação ao desenvolvimento de sua mediunidade e que já conheça seus guias, sendo certo que o ritual é realizado de forma específica, com ervas diferentes para cada orixá.

O médium seleciona sete ervas e as colhe. Depois elas são colocadas dentro de um pilão grande e maceradas lentamente para que desprendam seu sumo. Enquanto se vai macerando, vai-se colocando um pouco de água de cachoeira, ou, na falta dessa, água mineral. coloca-se também um pouco de álcool, para auxiliar no processo de extração do sumo. ao final, enche-se o pilão todo com água, até completar algo como uma bacia. Após isso, coa-se todo o conteúdo em um pano, para que apenas a água com o sumo fique. O bagaço das ervas deve ser jogado em um jardim, a fim de que retorne à natureza.

Feito isso, diante do Congá, sob a vibração da corrente, a cabeça do médium é lavada com aquela água, a fim de que as energias emanadas das ervas maceradas se assentem em seu chacra coronário.

É, na verdade, um ritual muito importante, onde o trabalho do médium se restringe à coleta e à maceração de suas ervas. Todo o trabalho de fixação das energias é realizado pelas entidades, durante o ritual, razão pela qual se exige que o mesmo seja realizado no terreiro, pois envolve manipulação de energias que necessitam de ambiente preparado, com a devida canalização de forças determinada pelos assentamentos da casa e pela vibração da corrente mediúnica.

Não cabe ao médium dizer quando deseja fazer um amaci. Essa necessidade será determinada pelo próprio guia que, incorporado, solicitará ao dirigente da casa a realização da obrigação. Isso, contudo, varia de centro para centro, pois em muitas casas se adota a sistemática de o dirigente determinar quando cada pessoa deverá realizar o amaci, e ainda há situações em que a realização do ritual obedece a calendário pré-determinado, caso em que, numa determinada época do ano a instituição realiza uma cerimônia coletiva na qual todos os médiuns em condições são submetidos ao amaci.

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