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Respostas Sobre Reencarnação - Artigo Completo

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Respostas Sobre Reencarnação - Artigo Completo

Algum tempo atrás, navegando pela Internet, encontrei uma página ligada a uma igreja evangélica que fazia uma série de ataques ao Espiritismo, em todas as suas manifestações. Lendo alguns artigos, percebi que eles dedicavam especial atenção em atacar a doutrina da reencarnação. Não é por acaso: esse é um dos principais pilares das religiões de matriz espiritualista. Na mesma página havia um questionário tomado emprestado de uma organização católica, intitulado “20 Perguntas aos Reencarnacionistas”. Percebendo a inconsistência das perguntas, resolvi respondê-las, uma a uma. Como percebo que, em alguns momentos, nós, espíritas umbandistas, nos esquecemos um pouco desse fundamento, decidi publicar as perguntas e as respostas, até como forma de fomentar a reflexão sobre esse fundamento tão importante de nossa religião. Apesar de o texto ficar muito grande, publico-o aqui, na íntegra.

PRIMEIRA PERGUNTA.

"Se a alma humana se reencarna para pagar os pecados cometidos numa vida anterior, deve-se considerar a vida como uma punição, e não um bem em si. Ora, se a vida fosse um castigo, ansiaríamos por deixá-la, visto que todo homem quer que seu castigo acabe logo. Ninguém quer ficar em castigo longamente. Entretanto, ninguém deseja, em sã consciência, deixar de viver. Logo, a vida não é um castigo. Pelo contrário, a vida humana é o maior bem natural que possuímos."

R- O cerne de toda a questão, na verdade, é conceitual. A resposta deve necessariamente principiar pelo dimensionamento do conceito de vida. Quando consideramos que vida é a do espírito – essa sim, maior bem natural que Deus nos concedeu – entendemos que a encarnação nada mais é que uma etapa do processo evolutivo, um momento efêmero na eternidade da vida espiritual. Assim entendida, a encarnação é espécie dentro do gênero vida O espírito vive, encarnado ou desencarnado e, por conseguinte, não existe morte, mas tão somente uma alternância entre dois estados de consciência viva.

Outro conceito que carece ser esclarecido é o de pecado: quando se parte de uma visão maniqueísta do mundo – como fazem as religiões cristãs tradicionais – concebe-se um homem angustiado e dividido entre a virtude e o pecado, como se o bem e o mal fossem autônomos, antagônicos e imutáveis e a opção por um deles conduzisse irreversivelmente à condenação ou à salvação. Quando, no entanto, se parte de uma visão dialética do mundo – como fazem os espíritas Reencarnacionistas – percebe-se que a grande tensão existente no ser humano é a que se trava entre a ignorância e o conhecimento, os quais não são autônomos, mas conjunturais, na medida em que se transformam com o tempo; não são antagônicos, mas inversamente proporcionais, na medida em que, crescendo o estado de conhecimento, decresce o de ignorância, e, por fim, não são imutáveis, mas transitórios, na medida em que a ignorância cede lugar ao conhecimento e esse se aperfeiçoa infinitamente.

A consequência desse raciocínio é que não existe um pecado advindo de uma opção pelo mal, reclamando punição; existem erros advindos da ignorância, reclamando reparação e aprendizado. Dessarte, a encarnação não é vista pelos espíritas como um castigo, mas como uma nova oportunidade de crescimento, verdadeira expressão da misericórdia e da justiça divinas, oportunidade essa à qual nos agarramos como a uma tábua de salvação.

SEGUNDA PERGUNTA

"Se a alma se reencarna para pagar os pecados de uma vida anterior, dever-se-ia perguntar quando se iniciou esta série de reencarnações. Onde estava o homem quando pecou pela primeira vez? Tinha ele então corpo? Ou era puro espírito? Se tinha corpo, então já estava sendo castigado. Onde pecara antes? Só poderia ter pecado quando ainda era puro espírito. Como foi esse pecado? Era então o homem parte da divindade? Como poderia ter havido pecado em Deus? Se não era parte da divindade, o que era então o homem antes de ter corpo? Era anjo? Mas o anjo não é uma alma humana sem corpo. O anjo é um ser de natureza diversa da humana. Que era o espírito humano quando teria pecado essa primeira vez?"

R- A questão parte de uma assertiva que denota desconhecimento da doutrina da reencarnação nos moldes espíritas, pois que o Espiritismo em nenhum momento afirma que a alma só reencarna para pagar os pecados, até porque, como bem já se demonstrou anteriormente, o pecado não existe. O espírito reencarna com o fim de trilhar sua jornada evolutiva que começa na matéria densa e passa por diversos estágios que incluem matérias mais sutis em orbes distintos do terrestre, até se desvencilhar do envoltório perispiritual e poder habitar mundos perfeitos, onde passa a colaborar diretamente na infinita tarefa da criação divina.

Fato é que Deus cria o espírito simples e ignorante e faz com que ele inicie sua escalada para a perfeição num estágio primário, pelo mesmo motivo que não se matriculam crianças em universidades.

O que muitos insistem em não perceber é que a perfeição não é atributo do homem, é conquista. Uma conquista que se faz a passos lentos, mas gradativos, tendendo sempre ao infinito, já que infinita é a perfeição de Deus.

Esse raciocínio, aliás, é muito mais acorde com a grandeza divina, pois, se, como alguns pretendem, o homem fosse criado perfeito e depois pecasse, teríamos que forçosamente admitir que a perfeição não era tão perfeita assim.

Dessa sorte, ignorante e simples, o homem erra e, ao errar, contrai débitos que virão exigir reparação, na mesma ou em outra existência. Essa reparação, por sua vez, contribuirá para o desenvolvimento da consciência, que é o elo de nossa ligação com o criador. Essa consciência, embrionária na infância do espírito, nutre-se da experiência acumulada a cada existência e em seus intervalos, aproximando-se mais da fonte quanto mais se desenvolve.

Fica evidente que sendo falsa a premissa que introduz a pergunta, falsos são todos os raciocínios que dela derivam e que compõem o corpo da questão.

Ademais, existe até mesmo uma falha de construção lógica na formulação, já que à pergunta “Quando se iniciou esta série de reencarnações?”, só existe uma resposta possível: na segunda encarnação, pois a primeira não era “re”, era apenas encarnação. Quanto à questão da natureza humana ou angelical, não merece maiores considerações, já que somente a estreiteza de raciocínio consegue conceber uma criação hierarquizada. Quem concebe um Deus justo, concebe seres criados em condição de igualdade, diferenciando-se, com o tempo, unicamente pelo merecimento, pela expansão da consciência e pelo aprendizado. Aqueles que vislumbram um Deus tirânico e caprichoso, na verdade o criam, inspirados em sua própria natureza; para se justificarem, se possuem uma natureza igualmente tirânica, ou para se completarem, se possuem uma natureza subserviente e bajuladora.

TERCEIRA PERGUNTA

"Se a reencarnação fosse verdadeira, com o passar dos séculos haveria necessariamente uma diminuição dos seres humanos, pois que, à medida que se aperfeiçoassem, deixariam de se reencarnar. No limite, a humanidade estaria caminhando para a extinção. Ora, tal não acontece. Pelo contrário, a humanidade está crescendo em número. Logo, não existe a reencarnação."

R- Mais um equívoco conceitual: onde se situa a condição de humano, na matéria ou no espírito? Nós, espíritas, temos claro que essa condição é atributo espiritual e que, por isso mesmo, a humanidade jamais se extinguirá, dada a imortalidade do espírito.

Para completar, a pergunta traz uma demonstração de total, completa e absoluta ignorância da doutrina da reencarnação em seus matizes mais delicados e profundos: Onde está dito que aqueles que alcançam algum grau de evolução deixam de habitar a terra? Não é essa a lógica da Doutrina Espírita. Na verdade, o orbe terrestre em toda a extensão de seus domínios, comporta dimensões diferenciadas de vida e evolução. O Planeta está em franco processo de mudança de grau evolutivo, com o fim de continuar servindo de morada a todos aqueles que conseguirem atingir um determinado nível de evolução moral, compatível com a nova classificação da Terra na ordem dos mundos do Universo.

Em seus primórdios, a terra foi habitada por alguns bilhões de espíritos recém-criados por Deus e que começaram juntamente com o Planeta a sua escalada evolutiva. Nessa escalada, fomos auxiliados por espíritos degredados de um mundo já bem mais evoluído, que, em geral, traziam consigo grandes conquistas intelectuais, mas pouca evolução moral. Tais exilados, ao chegarem à Terra, aqui encontraram os terráqueos primitivos e a eles se agregaram, dando um impulso inicial de desenvolvimento, fato registrado pela Ciência Histórica como o advento das grandes civilizações.

Nesse processo simbiótico de crescimento, os exilados auxiliaram no progresso do orbe e de seus habitantes, mas conquistaram também, em sua maioria, as qualidades morais de que necessitavam, quando de sua expulsão de seu mundo primitivo. Muitos retornaram ao orbe de origem e outros, afeiçoados à nova morada aqui permaneceram, contribuindo como missionários na escalada crescente da Terra rumo a uma nova etapa evolutiva.

Assim é que o destino dos espíritos que alcançam um grau mais elevado de evolução intelectual e moral não é um paraíso imaginário e contemplativo, mas a própria Terra, saneada, evoluída e elevada em mais um grau na escala dos mundos. Mais feliz, sem dúvida, mas ainda distante da condição de mundo perfeito.

Aqui deverão ficar os espíritos que se libertaram das paixões primitivas e que já se encontram em condições de galgar uma nova etapa de aprendizado na seara divina. Tal é o sentido das palavras de Jesus quando diz: “Bem aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra”.

QUARTA PERGUNTA.

"Respondem os espíritas que Deus estaria criando continuamente novos espíritos. Mas então, esse Deus criaria sempre novos espíritos em pecado, que precisariam sempre se reencarnar. Jamais cria ele espíritos perfeitos?"

R- Vale responder com outra pergunta: como, afinal ele cria os espíritos? Alguns perfeitos e outros imperfeitos? Todos imperfeitos? Ou todos perfeitos?

Avaliemos cada uma das respostas, à luz de crenças dos próprios não reencarnacionistas, a fim de demonstrar a insustentável incoerência de suas teses: se Deus criasse alguns perfeitos e outros imperfeitos, seria parcial e injusto, sendo ele mesmo imperfeito e, nesse caso, incapaz de produzir algo perfeito, visto que ninguém pode dar o que não tem.

Se, por outro lado, criasse a todos imperfeitos, sendo essa imperfeição inerente á própria natureza do espírito, seria imutável e não haveria esperança para a humanidade, sem contar que não se poderia sustentar a tese de que somos criados à imagem e semelhança de Deus.

Por fim, a última e mais absurda hipótese, a de serem todos criados perfeitos. Nesse caso, teríamos de admitir que estamos vivendo em um paraíso, que não há problemas no mundo e que todos são bons e justos, o que é absurdo por si só, bastando dar uma rápida olhada para o mundo em que vivemos.

Resta, então a lógica: se todos forem criados igualmente simples e ignorantes, tendo a perfeição como meta e não como atributo imanente, dando-se a todos as mesmas oportunidades de crescimento, e igual liberdade de escolha, a perfeição se torna uma conquista, produto do esforço individual e da perseverança nos valores positivos.

Essa verdade, que pode ser perfeitamente entendida da alegoria de Jesus na parábola dos talentos, é tão simples quanto bela, mas ainda esbarra nos interesses escusos daqueles que insistem em fazer da religião um instrumento de dominação, pretendendo-se porta-vozes de um Deus tirânico, a fim de poderem exercer por sua vez uma parcela dessa tirania.

QUINTA PERGUNTA

"Se a reencarnação dos espíritos é um castigo para eles, o ter corpo seria um mal para o espírito humano. Ora, ter corpo é necessário para o homem, cuja alma só pode conhecer através do uso dos sentidos. Haveria então uma contradição na natureza humana, o que é um absurdo, porque Deus tudo fez com bondade e ordem."

R- Volta-se ao conceito de crime e castigo. Mais uma vez se insiste: a reencarnação não é um castigo para ninguém. É uma oportunidade de aprendizado e reparação a que a maior parte dos espíritos se agarra com absoluto entusiasmo.

A pergunta, contudo, traz consigo uma questão interessante, que demonstra mais uma vez a inconsistência dos conceitos dos não reencarnacionistas, quando afirma que a alma só pode conhecer através do uso dos sentidos.

Sem dúvida, a alma, enquanto espírito encarnado, serve-se dos sentidos do corpo para apreender o mundo físico a seu redor e, a partir dessa experiência sensível, produzir noções abstratas que, depois de sistematizadas, se transformam em conhecimento. Não decorre daí, contudo, que o espírito, enquanto espírito puro, necessite dos sentidos do corpo para aprender, pois seria admitir que o espírito não possui autonomamente sentidos, o que é absurdo, se não ridículo, na medida em que a relação é exatamente inversa. Explica-se:

O espírito – energia inteligente, expressão máxima da criação divina – possui em seu estado natural, todos os sentidos que possui quando encarnado e mais alguns que ainda não nos é possível compreender racionalmente. Mais que isso, no espírito desencarnado, todos os sentidos são absolutamente potencializados, o que lhes assegura uma maior capacidade de apreensão do mundo. Pode-se dizer, portanto, que, quando encarnado, os sentidos do corpo físico funcionam como uma janela através da qual o espírito percebe o mundo.

Dessarte, deduz-se que o ter corpo é necessário para o homem, mas por motivos bem diversos daqueles apontados na pergunta. Assim como os fluidos transitam do meio mais denso para o menos denso, o espírito transita da matéria densa para a energia pura. Ter corpo, nesse contexto, é necessário e desejável para o espírito que, em sua escalada evolutiva, tem que se submeter aos diversos estágios, sem saltos. Não existe na terra um único PhD que não tenha estado um dia nos bancos do jardim de infância.

SEXTA PERGUNTA

"Se a reencarnação fosse verdadeira, o nascer seria um mal, pois significaria cair num estado de punição, e todo nascimento deveria causar-nos tristeza Morrer, pelo contrário, significaria uma libertação, e deveria causar-nos alegria. Ora, todo nascimento de uma criança é causa de alegria, enquanto a morte causa-nos tristeza. Logo, a reencarnação não é verdadeira."

R- Mais uma vez a noção reducionista de crime e castigo, dessa vez ilustrada por uma generalização do sentimento médio das sociedades em relação a fatos naturais. Conduzindo a um raciocínio enganador e malicioso.

Novamente vamos bater na mesma tecla: reencarnação não é punição.

Cabe também perguntar, desde quando os sentimentos de alegria e de tristeza são índices de verdade ou falsidade de alguma coisa?

Por esse mesmo raciocínio, poderíamos construir outro silogismo igualmente ridículo e despropositado: a opulência só nos traz alegria, enquanto a miséria causa-nos tristeza, logo, se alguém é rico e infeliz, esse alguém não existe.

Por fim, é de se realçar que há grande quantidade de filhos indesejados, cujo nascimento causa tristeza e não alegria. Pelo mesmo raciocínio, esses filhos não são verdadeiros. Da mesma forma, há casos de agonias prolongadas em que a chegada da morte, causa a todos uma sensação de bem estar. Seria de se admitir, nesse caso que a morte é uma mentira.

Encarnar e desencarnar são fatos naturais que pela falsa significação de princípio e fim que adquiriram, notadamente nas sociedades ocidentais, produzem sentimentos de júbilo ou de angústia.

Nós reencarnacionistas vemos a encarnação como um segmento de reta, nada mais que dois pontos demarcados no infinito, onde o que importa é o percurso, único que está em nosso alcance transformar, já que os marcos estão condicionados á vontade de Deus.

Nesse ponto, vale ressaltar, inclusive, que, se, como já foi afirmado anteriormente em outra pergunta “Deus tudo fez com bondade e ordem” e, se bondade e ordem só podem gerar alegria, sendo o desencarne uma determinação divina, deve igualmente causar alegria, por ser expressão de sua bondade e de sua ordem.

SÉTIMA PERGUNTA

"Vimos que se a reencarnação fosse verdadeira, todo nascimento seria causa de tristeza. Mas, se tal fosse certo, o casamento - causador de novos nascimentos e reencarnações – seria mau. Ora, isto é um absurdo. Logo, a reencarnação é falsa."

R- Trata-se de uma pergunta sofismática do princípio ao fim. Primeiramente, a premissa de que com a reencarnação o nascimento seria motivo de tristeza não é um truísmo a dispensar demonstração, mas tão somente uma opinião dogmática. Na condição de premissa fundamental, a carência de universalidade, falseia todo o raciocínio, negando logicidade à conclusão. Observe-se ainda que o causador de novos nascimentos é o sexo e não o casamento e as duas coisas são naturalmente dissociadas. A necessidade de um casamento formal a legitimar a prática do sexo é uma mera convenção hodiernamente anacrônica. Há uma imensidade de filhos havidos fora do casamento formal e isso não os torna menos nascidos. Da mesma forma, há um grande número de casamentos que não produzem filho algum e isso não os torna menos válidos. O casamento formal é uma instituição social que foi alçada pela igreja à condição de sacramento, a fim de se emprestar legitimidade divina à fusão de impérios e ao direito hereditário. Não tem, por isso mesmo que ser necessariamente um bem e nem muito menos é absurdo que, em determinadas circunstâncias, seja um mal. Em qualquer caso, o que pode haver de divino em um casamento é o amor. Havendo amor o casamento tende a ser um bem com ou sem filhos. Não havendo amor, o casamento tende a ser um mal, com ou sem filhos. Fica provado pelos fatos, pela lógica que não existe relação necessária entre casamentos e reencarnações, ficando igualmente demonstrado que o argumento da pergunta é indutivo ao erro e não pode ser considerado como válido para provar a falsidade da tese reencarnacionista.

OITAVA PERGUNTA

"Caso a reencarnação fosse uma realidade, as pessoas nasceriam de determinado casal somente em função de seus pecados em vida anterior. Tivessem sido outros os seus pecados, outros teriam sido seus pais. Portanto, a relação de um filho com seus pais seria apenas uma casualidade, e não teria importância maior. No fundo, os filhos nada teriam a ver com seus pais, o que é um absurdo."

R- Novamente aqui se demonstra um profundo desconhecimento da doutrina da reencarnação. Na verdade, é exatamente o oposto o que ocorre. As verdadeiras famílias são as famílias espirituais e a reencarnação, ao contrário do que sugere a pergunta é um elemento poderoso a fortalecer os laços de simpatia que unem os espíritos e fazem com que permaneçam ligados uns aos outros nas duas dimensões da vida, ajudando-se na superação das provas e evoluindo juntos num clima de verdadeira fraternidade espiritual. Isso, aliás, é muito mais racional, visto que os laços mais se fortalecem na medida da convivência contínua. É necessário, contudo, tecer algumas considerações concernentes ao problema do parentesco que parece ser um caso mal resolvido pelos não reencarnacionistas, em razão de sua dificuldade em enxergar além dos limites da vida física. Importa dizer que o único parentesco eterno e imutável é o espiritual e, por esse, somos todos irmãos. Em qualquer ponto do infinito universo em que haja um espírito, independente do grau de evolução em que se encontre, ali está um irmão em Deus, que deve ser amado como tal, em conformidade com a lei de fraternidade universal. O parentesco terreno, fundado em laços genéticos, se desfaz com a matéria, sendo correto dizer que os estados de filiação criados na terra não prevalecem no plano espiritual. O que prevalece é o amor. Esse amor pode determinar que espíritos que tenham vivido numa encarnação como pais e filhos, venham a trilhar juntos uma nova jornada, dentro de uma mesma família terrena, mas não necessariamente com os mesmos laços, podendo serem os papéis invertidos ou modificados, de acordo com as necessidades evolutivas. Pode ocorrer, inclusive, de espíritos ligados por forte elo de amor fraterno reencarnarem em famílias diferentes, encontrando-se ao longo da jornada terrena e reatando os laços de que os unem. Isso explica o fato de, muitas vezes, haver mais simpatia, fraternidade, e sintonia de idéias entre duas pessoas de famílias completamente diversas do que entre irmãos consanguíneos. Resta demonstrado que as pessoas não nascem de determinados pais apenas em função de seus pecados. Pensar assim é assumir uma atitude reducionista e mesquinha diante de algo tão grande, profundo e complexo como é a Lei de Reencarnação. Entretanto, convém admitir que, se assim fosse, e os laços de filiação fossem ditados pelos erros cometidos contra o próximo, pelo menos haveria uma lógica por trás das relações. Vale então perguntar: e se não houvesse reencarnação? Os filhos estariam ligados a seus pais com base em vínculos de que espécie? Aí sim, haveria casualidade. Aliás, a pergunta parece desconhecer o sentido do termo “casual”. Nenhum fato que tenha por suporte uma relação de causa e efeito pode ser considerado casual, por mais insignificante que seja essa relação. Vale dizer: a causalidade exclui a casualidade. Não há argumento contra isso.

NONA PERGUNTA

"A reencarnação causa uma destruição da caridade. Se uma pessoa nasce em certa situação de necessidade, doente, ou em situação social inferior ou nociva -- como escrava, por exemplo, ou pária – nada se deveria fazer para ajudá-la, porque propiciar-lhe qualquer auxílio seria, de fato, burlar a justiça divina que determinou que ela nascesse em tal situação como justo castigo de seus pecados numa vida anterior. É por isso que na Índia, país em que se crê normalmente na reencarnação, praticamente ninguém se preocupa em auxiliar os infelizes párias. A reencarnação destrói a caridade. Portanto, é falsa."

R- Há várias questões a serem tratadas dentro da pergunta. Vamos a elas:

Em primeiro lugar, vamos falar das mazelas humanas, para tecer uma consideração que precede à própria pergunta, e dizer que, se não houvesse uma causa anterior a determinar que uns necessitassem de auxílio e outros estivessem em condição de auxiliar, ninguém precisaria se preocupar em estar burlando a Justiça Divina, porque não haveria o que burlar.

O principal erro da pergunta consiste em conceber duas classes diferentes de humanos, a dos que só carecem e a dos que só abundam. Quem dentre os encarnados na Terra poderia, em sã consciência afirmar não precisar da ajuda de ninguém para absolutamente nada?

Tal pessoa não existe, porque, na realidade, somos todos endividados. Todos os que aqui estamos, de alguma forma resgatamos débitos contraídos em encarnações precedentes, por isso a ninguém é dado deixar de auxiliar por receio de anular uma punição. A justiça pertence única e exclusivamente a Deus. Para todos nós prevalece o critério de Jesus: “aquele que estiver sem pecado, atire a primeira pedra.”

Precisamente por isso, a Providência Divina disseminou a Lei de Caridade, para que no auxílio ao próximo tratemos de nós mesmos, pois, no fundo, só nos dispomos a ajudar, porque temos consciência de nossa própria miserabilidade. Quem dá um prato de comida para saciar a fome, também tem estômago, quem hipoteca solidariedade para aplacar a dor moral, também tem escrúpulos.

Sob esse fundamento, pouco a pouco, a generosidade atenua o egoísmo, a misericórdia ameniza o rancor e essa conduta reiterada produz a consciência radicada no bem. É a prática que conduz à perfeição.

Ao contrário do que muitos pensam, resgatar pela reencarnação não se resume a pagar com o próprio sofrimento. Consiste acima de tudo em aprender com a prática do bem, pois os mundos superiores e felizes não são habitados por sofredores arrependidos, mas por almas redimidas no amor ao próximo.

Por essas razões, o Espiritismo tem por principal divisa a máxima “fora da caridade não há salvação” e por principal alicerce doutrinário a Lei de Reencarnação. Sabendo disso, somente com muito cinismo alguém poderia sustentar que a reencarnação destrói a caridade.

Por fim, deve-se dizer que hodiernamente, várias religiões acreditam na reencarnação, a exemplo do Hinduísmo e do Budismo. Essa crença – comum desde os primórdios da humanidade – também estava presente no Cristianismo dos primeiros tempos até ser banida dos cânones da Igreja para atender a interesses pessoais da Imperatriz Teodora. Há, contudo, sensíveis diferenças entre a reencarnação preconizada por essas religiões e a que emerge das obras kardekianas após a segunda metade do século XIX.

Embora não seja nosso objetivo aqui detalhar tais diferenças, é imprescindível citar que a doutrina kardecista não encara o problema do carma de forma mecânica ou fatalista, como faz o Hinduísmo, nem admite a possibilidade da metempsicose como ocorre no Budismo, de sorte que o resgate das faltas é sempre um instrumento na busca do objetivo maior que é a evolução, e a trajetória do espírito é sempre ascendente, não existindo retrocessos na escalada. É preciso, por isso, saber o que se critica, antes de se criticar, pois, sob a idéia de reencarnação, abrigam-se sistemas filosóficos distintos, sérios e que sob seu manto de espiritualidade abrigam milhões de seres humanos. Todos são bons, mas não se confundem e somente por leviandade ou por ignorância se poderia juntar tudo num mesmo pacote para apedrejar indistintamente a todos.

DÉCIMA PERGUNTA

"A reencarnação causaria uma tendência à imoralidade e não um incentivo à virtude. Com efeito, se sabemos que temos só uma vida e que, ao fim dela, seremos julgados por Deus, procuramos converter-nos antes da morte. Pelo contrário, se imaginamos que teremos milhares de vidas e reencarnações, então não nos veríamos impelidos à conversão imediata. Como um aluno que tivesse a possibilidade de fazer milhares de provas de recuperação, para ser promovido, pouco se importaria em perder uma prova - pois poderia facilmente recuperar essa perda em provas futuras - assim também, havendo milhares de reencarnações, o homem seria levado a desleixar seu aprimoramento moral, porque confiaria em recuperar-se no futuro. Diria alguém: "Esta vida atual, desta vez, quero aproveitá-la gozando à vontade. Em outra encarnação, recuperar-me-ei”. Portanto, a reencarnação impele mais à imoralidade do que à virtude."

R- Essa é, entre todas, a pergunta que guarda mais compromisso com a lógica e a que exige maior complexidade na resposta.

Jesus disse em Mateus, XII, 34, que a boca sempre fala do que é abundante no coração. Nesse diapasão, não é a doutrina da reencarnação que conduz à imoralidade, mas a imoralidade latente que conduz ao falseamento do princípio. Quem consegue enxergar no dispositivo da Justiça Divina um estímulo à iniquidade, traz a iniquidade na alma. Deus sabe disso e, em sua infinita misericórdia concede infinitas oportunidades àqueles cuja necessidade do gozo é maior que a consciência do bem. A magia do tempo que converte carvão em diamante, também converte primatas em anjos.

A dificuldade que tantos encontram em assimilar essa ideia provém principalmente da imagem distorcida que os homens fazem de Deus. Essa distorção se propaga em cascata, contaminando tudo a seu redor e produzindo sistemas religiosos deformados em suas bases, preconizando um bem formal, de fachada e uma ética assentada no medo da punição.

A pergunta, por si só já é rica em exemplos do que aqui se afirma, ao dizer que o homem, sabendo que só tem uma vida, ao final da qual será julgado por Deus, procura converter-se antes da morte.

Essa conversão nada mais é do que uma mudança por conveniência, onde o medo da punição induz à ocultação das tendências consideradas menos dignas, com o fito de granjear a simpatia de Deus e principalmente o aplauso dos homens, como se a perfeição consistisse em varrer a sujeira para debaixo do tapete, apresentando uma aparência impoluta, mas um interior corroído pelo desejo sufocado. É uma ética de leões de circo que, dóceis ante o chicote do domador, guardam em seu interior uma fera sanguinária, pronta a estraçalhar ao primeiro descuido. Quem se arriscaria a levar um para casa a fim de criar como um gato doméstico?

Deus não se deixa enganar por aparências. Quem se contenta com esse ideal de virtude formal, certamente se satisfaz ante a perspectiva de habitar futuramente um céu repleto de hipócritas, de feras domadas, vivendo sob a batuta de um Deus moralmente míope, que não condena a imperfeição, contanto que ela não se manifeste.

A doutrina da reencarnação, como preconizada por Kardec entende que a perfeição não consiste no sufocamento da imperfeição, mas em sua supressão. Essa supressão, por sua vez, decorre de um complexo de fatores que incluem maturidade, educação, desprendimento, altruísmo, e muitos outros que são produto do tempo.

Exemplificando: sabemos que todos nós encarnados temos necessidade de possuir alguns bens que nos garantem a sobrevivência. Consideremos, então, três indivíduos diferentes, todos necessitados de determinado bem. O primeiro não hesita em recorrer ao furto para satisfazer sua necessidade. É um meliante. O segundo ambiciona ardentemente aquele bem, mas teme profundamente o castigo legal que pode advir do furto e o julgamento que as outras pessoas poderiam fazer dele, caso fosse descoberto e, nessa linha, reprime seu instinto. O terceiro necessita do bem, mas jamais pensaria na possibilidade de furtá-lo, porque possui dentro de si respeito ao próximo, sentimento de dignidade e já traz profundamente arraigada a consciência de que a satisfação das necessidades tem que decorrer do esforço pessoal.

Na visão dos não reencarnacionistas, perecendo esses três indivíduos simultaneamente, apenas o primeiro iria para o inferno. Os outros dois iriam para o céu. O segundo indivíduo, contudo, não passa de um hipócrita, um leão de circo que, em termos de consciência está a milênios de atingir a evolução do terceiro, mas teria que ser levado ao céu, já que se absteve de fazer o mal.

É lógico que esse é apenas um exemplo didático para ilustrar a lógica reducionista e superficial daqueles que preconizam uma única vida e ainda têm a ingenuidade de crer na existência de um inferno. Falta-lhes a clareza de perceber que Deus é simplesmente luz e perfeição e que o único inferno é aquele que se alimenta da treva da consciência dos que se comprazendo na iniquidade pensam em utilizar a oportunidade de aperfeiçoamento para a satisfação de seus desejos sórdidos.

DÉCIMA PRIMEIRA PERGUNTA

"Ademais, por que se esforçar, combatendo vícios e defeitos, se a recuperação é praticamente fatal, ao final de um processo de reencarnações infindas?"

R- Todo esforço sincero é sempre meritório e será logicamente reconhecido por Deus. A pressa, contudo, é inimiga da perfeição. Qualquer pessoa de bom senso sabe que, a despeito dos esforços despendidos, ninguém se livra de todas as imperfeições eu uma única existência. O que fazemos a cada encarnação é dar mais um passo em nossa escalada rumo ao infinito, até porque a consciência é cumulativa. Uma vez superado um defeito, não voltamos a tê-lo e, no mais das vezes, podemos em uma nova existência auxiliar outras pessoas na superação daquilo que já vencemos. Contudo, somos dotados de livre arbítrio que nos permite também permanecermos estagnados, enquanto assim o desejarmos, até que a dor nos resgate de nossa própria indolência, de nossa própria recalcitrância, levando-nos a retomar o caminho da evolução.

DÉCIMA SEGUNDA PERGUNTA

"Se assim fosse, então ninguém seria condenado a um inferno eterno, porque todos se salvariam ao cabo de um número infindável de reencarnações. Não haveria inferno. Se isso fosse assim, como se explicaria que Cristo Nosso Senhor afirmou que, no juízo final, Ele dirá aos maus: "Ide malditos para o fogo eterno?” (Mt. )

R- A conclusão é absolutamente correta. Assim é e, por isso, ninguém está condenado a um inferno eterno. Não existe inferno, assim como não existe um céu de contemplação e gozo eternos. Concepções religiosas pueris criaram mitos como o inferno com o objetivo de impor pelo medo uma conduta mais aproximada da moral defendida por seus cânones deformados e, no mais das vezes hipócritas."

Na verdade, o conceito de inferno é medieval, como também o conceito de diabo. A Idade Média é um período de obscurantismo e estagnação cultural, marcado também pela aliança entre a Igreja e o Estado, aliança essa que precisava de dispositivos hábeis para preservar a obediência e a subserviência do povo aos poderes canônico e secular.

Como a Igreja se arrogava o papel de representante de Deus na Terra, também se autoconsiderava um símbolo, isto é, uma coisa que aproxima, que liga ao criador. Dessa forma, todos os seus preceitos deveriam ser seguidos por aqueles que amassem a Deus e que principalmente O temessem.

Em contrapartida, tudo o que fosse contrário aos princípios da Igreja era considerado como um diábolo, isto é, algo que afasta, contraria, distancia.

Fácil, portanto perceber como diábolo se tornou no imaginário popular o diabo, figura mítica que supostamente se opõe a Deus e a toda a sua obra.

O mito propositalmente criado encontrou na ignorância do povo medieval um terreno fértil para se propagar e criar raízes profundas o suficiente, para continuar a sustentá-lo, mesmo depois que as primeiras luzes da razão se fizeram sentir com o advento do humanismo e do renascimento. É que tais raízes também estavam fundadas no medo, que, nas palavras de Maquiavel, se sobrepõe ao amor, pelo menos quando se trata de uma humanidade primitiva e ainda guiada pelos instintos.

Posteriormente, Lutero teve a oportunidade histórica de mudar tudo isso, porém, em que pesem os muitos acertos que suas teses continham, sua doutrina se perdeu num emaranhado de oposições formais ridículas, relativas a sacramentos e a práticas exteriores de adoração, sem qualquer compromisso com a efetiva reforma íntima dos fiéis. Seu legado espalhou-se pelo mundo, dando origem a uma absurda diversidade de seitas, diferenciadas, muitas vezes, apenas por palavras, mas, de um modo geral, por pequenos detalhes dogmáticos que geram discussões tão intermináveis quanto estéreis. Tais seitas, principalmente no Brasil, multiplicam-se na periferia das grandes cidades, encontrando enorme ressonância entre as populações excluídas, alimentando-se principalmente da ignorância e constituindo-se em um grande filão econômico: a exploração da fé cega e irracional.

Imprescindível lembrar que toda essa diversidade de seitas tem na figura do diabo e no medo do inferno o seu principal sustentáculo, pois toda a sua força decorre de fazer as pessoas acreditarem que existe um embate constante entre Deus e essa personagem lendária, acentuando que Deus cobre de favores aqueles que, no calor da batalha, se mantiverem a seu lado. É um jogo de interesses. Esses incautos atraídos para essa armadilha se colocam na condição de mercenários, muitas vezes cobrando de Deus sob a forma de desafios o preço de sua fidelidade. Fica claro que para tais religiões, admitir a inexistência do diabo e do inferno significaria a aniquilação completa.

No fundo, é até possível conceber um diabo, não como indivíduo, mas como um ente coletivo, formado e sustentado pelos interesses mesquinhos que sempre defenderam sua existência. Há algo mais próximo do inferno lendário que as fogueiras da inquisição assassina que fizeram arder a Europa ao longo de mais de quinhentos anos? Não parece muito fácil enxergar o inferno onde a intolerância dita as normas e produz os mais absurdos conflitos? Nesse sentido, quem sabe dizer qual é a verdadeira posição da Igreja de Roma quanto à famosa noite de São Bartolomeu, patrocinada por Catarina de Médicis, uma de suas filhas mais diletas? E para trazer a discussão para uma perspectiva histórica mais recente, quem está com a razão na encarniçada Irlanda? Católicos ou protestantes? Hipócritas. Matam, destroem, corrompem, promovem banhos de sangue, semeiam iniquidade pelo mundo, negociam com a fé e afirmam fazê-lo em nome de Deus. Se o diabo existisse, esses seriam seus mais fieis e leais seguidores.

Em relação às palavras de Jesus, vale dizer que o cristianismo tradicional sempre errou por literalidade, isto é, sempre se tomou ao pé da letra tudo aquilo que se encontra nos Evangelhos. Sucede que Jesus, conhecendo o primitivismo dos homens de sua época, falou sempre de modo figurado, pois sabia que somente o tempo e a evolução permitiriam aos homens entenderem o verdadeiro sentido do que se propunha a ensinar. Desse modo, é preciso interpretar os evangelhos, buscar atrás da alegoria a verdade.

Note-se que, na citação em questão, Jesus não diz ide para o inferno eterno, mas para o fogo eterno. Ora, o fogo é na terra um dos principais elementos de transformação, suas propriedades permitem que se fundam e se moldem metais, que se cozinhem alimentos, que se transforme areia em vidro, que se movimentem máquinas sob a energia da combustão, que se esterilizem instrumentos e uma longa lista de utilizações, todas elas ligadas à transformação, à passagem de um estado a outro. Na semiótica mística, o fogo é um símbolo de purificação. Por outro lado, o universo e a criação são infinitos, sendo certo que sempre houve e sempre haverá mundos nos mais diversos estados evolutivos, uns mais primitivos, outros mais desenvolvidos, por isso a necessidade de transformação é tão eterna como o universo. Quando um mundo chega ao limiar de um novo estágio evolutivo, é necessário que aqueles espíritos que ainda não alcançaram o grau de evolução necessário para continuar habitando aquele mundo sejam removidos para outros mundos em estágios mais primitivos, a fim de que completem sua escalada evolutiva e tenham condição de retornar ao mundo anterior.

Tal era o sentido das palavras de Jesus: Quando chegar o momento da passagem da Terra à seu novo estado, (simbolicamente o juízo final) ele dirá àqueles que ainda não estejam em condições de nela permanecer: Ide completar sua transformação em um mundo que se encontre em um estado evolutivo compatível com o seu (simbolicamente, ide para o fogo eterno da transformação que deverá purificá-lo para que aqui retorne no futuro).

O próprio Cristo, em várias outras ocasiões deu indícios dessa verdade, como acontece no evangelho de João (XIV, 1 a 3), ao dizer que “há muitas moradas na casa de meu Pai”, referindo-se, obviamente, à diversidade dos mundos habitados e completando por dizer que “se assim não fosse, já vo-lo teria dito.”

DÉCIMA TERCEIRA PERGUNTA

"Se a reencarnação fosse verdadeira, o homem seria salvador de si mesmo, porque ele mesmo pagaria suficientemente suas faltas por meio de reencarnações sucessivas. Se fosse assim, Cristo não seria o Redentor do homem. O sacrifício do Calvário seria nulo e sem sentido. Cada um salvar-se-ia por si mesmo. O homem seria o redentor de si mesmo. Essa é uma tese fundamental da Gnose."

R- Curioso perceber como pensam os ortodoxos. Para eles o Jesus redentor é aquele que jaz inerte e ensanguentado na cruz. Pelo seu raciocínio, Jesus nada precisaria ter dito, bastaria que fosse crucificado para que seu sangue resgatasse toda a humanidade. Para nós reencarnacionistas, o redentor é o Jesus vivo. A redenção está em suas palavras e não em seu desencarne. Jesus não disse ide e levai uma cruz a todos os povos; mas “ide e pregai o evangelho a todos os povos”.

É de se imaginar que se Jesus tivesse vivido até os noventa anos e morrido de causas naturais, provavelmente tudo o que disse e fez teria se perdido no labirinto do tempo e da História, porque os herdeiros da tradição judaica precisam de holocaustos sangrentos a embasar seus dogmas.

Aliás, a imagem do cordeiro imolado nada mais é que isso: dogma. Pior ainda, dogma de origem espúria, já que se inspira nas práticas pagãs de se sacrificarem vítimas inocentes a fim de aplacar a ira dos deuses. Jesus seria a oferenda sagrada, cujo sangue puro derramado teria o condão de aplacar para sempre a ira de um deus brutal, que, se não for adulado, condena ao inferno, semeia maldições e castiga várias gerações.

Isso é primitivo, é grosseiro, é pagão e, para os tempos atuais, é ridículo.

Jesus teve uma vida impoluta, pregou com palavras e com exemplos, fazendo-se paradigma para uma humanidade que precisava evoluir. Ele mesmo declarou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.”, entretanto, mais de dois mil anos se passaram e ainda hoje se lhe valoriza mais a morte.

O homem redime sim a si próprio, quando consegue se amoldar ao exemplo de Jesus, quando assimila a extensão completa de seus ensinamentos e sente ecoar na consciência sua voz altiva e perene, cultuando um Jesus vivo em espírito, sem precisar de pensar em sangue derramado e em um cadáver inerte. Repousa aí também uma das principais diferenças entre Não reencarnacionistas e reencarnacionistas: Jesus. Uns cultuam sua cruz, outros cultuam sua luz.

DÉCIMA QUARTA PERGUNTA

"Em consequência, a Missa e todos os Sacramentos não teriam valor nenhum e seriam inúteis ou dispensáveis. O que é outro absurdo herético."

R- O espírito é energia inteligente; o pensamento que dele emana é onda que varre o espaço e o conecta a outras fontes de vibração de igual natureza.

Nessa linha, a fé é vibração poderosa que pode conectá-lo diretamente ao criador. A prece sincera e fervorosa é, portanto, o mais eficiente canal a estabelecer ligação entre o homem e Deus, sem necessidade de intermediários, de templos, de fórmulas ou de quaisquer aparatos materiais.

Parte considerável de nossa pobre humanidade, contudo, ainda precisa de rituais primitivos para conseguir projetar seu sentimento de fé. Essa necessidade atávica acompanha o homem desde as cavernas e vem ao longo dos séculos sendo estimulada por pessoas e instituições que dela se servem para preservar um status de dominação e manipulação de consciências.

É certo que Deus, infinitamente misericordioso, compreendendo esse problema, não deixa ao desamparo seus filhos , fazendo valer o ritual, não por sua força mágica enquanto ritual, mas pela fé e pelo merecimento daqueles que dele participam.

Assim é que um batismo tem um valor intrínseco: o desejo sincero de renovação daquele que a ele se submete, o resto é água e sal, presta-se, quando muito, a fazer salmouras. Um casamento tem um valor absoluto: o amor sincero e desinteressado dos nubentes, o desejo salutar de receber de Deus a incumbência de ajudar a guiar os destinos de outros espíritos no seio da família; o resto são vestidos, anéis, glamour e palavras vazias. Mera satisfação prestada à sociedade.

Considerando isso, a rigor, nenhum problema haveria com os rituais, não fosse pelo fato de que na grande maioria deles a forma substitui o conteúdo, convertendo-os em encenação. Casamentos transformaram-se em verdadeiros sets de filmagem, onde o brilho das luzes e a pompa da cerimônia são muito mais importantes que o amor e, via de consequência, o que Deus não uniu, as varas de família separam todos os dias, cada vez mais.

Missas e cultos, por sua vez, funcionam como jograis mal ensaiados, animados com música, onde a maioria das pessoas comparece para cumprir a obrigação de louvar e entrar em comunhão, engolindo uma hóstia ou um pedaço de pão com suco de uva. É a repetição mecânica de um gesto profundamente simbólico de Jesus que, ao distribuir entre os apóstolos o pão e o vinho e pedir que fizessem aquilo para celebrá-lo, estava tentando ensinar a necessidade de partilhar, de ser fraterno e caridoso. Guardou-se o ritual e expurgou-se o sentido profundo.

Quantos há por aí, entoando cânticos de louvor com o coração cheio de ódio, quantos há por aí com uma hóstia na boca e a mente entupida de avareza e soberba. Que sacramentos são esses?

O verdadeiro louvor deve ser artigo do dia-a-dia. Louvar é lembrar-se de Deus com gratidão nos momentos de alegria é agradecer pela oportunidade de crescimento nos momentos de dor. Estar em comunhão é trazer o coração e a mente constantemente abertos para o semelhante. Um sorriso sincero, um abraço fraterno, uma mão que auxilia, valem por todas as hóstias que já foram e que ainda serão produzidas. Um conselho amigo, um gesto gentil, uma lágrima que se ajuda a enxugar renovam mais a criatura que a água de todos os rios e oceanos do planeta. Uma vida compartilhada com harmonia, respeito e sinceridade de sentimentos tem mais valor que qualquer cerimônia de casamento já realizada em qualquer época da humanidade. O desejo sincero de ser útil a si mesmo e ao mundo é que desperta em cada um as potencialidades dadas por Deus. Nenhuma unção ou fórmula sacramental jamais substituirá no momento extremo uma consciência tranquila e a certeza do dever cumprido.

Por isso, a única verdadeira heresia é substituir por rituais o verdadeiro sentido dos ensinamentos de Jesus. Em que momento determinou ele que se celebrassem missas ou cultos? Em que momento prescreveu ele qualquer fórmula sacramental exceto aquela que todos conhecem e a maior parte insiste em não praticar: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

DÉCIMA QUINTA PERGUNTA

"A doutrina da reencarnação conduz necessariamente à ideia gnóstica de que o homem é o redentor de si mesmo. Mas, se assim fosse, cairíamos num dilema:

a) Ou as ofensas feitas a Deus pelo homem não teriam gravidade infinita;

b) Ou o mérito do homem seria de si, infinito.

Que a ofensa do homem a Deus tenha gravidade infinita decorre da própria infinitude de Deus. Logo, dever-se-ia concluir que, se homem é redentor de si mesmo, pagando com seus próprios méritos as ofensas feitas por ele a Deus infinito, é porque seus méritos pessoais são infinitos. Ora, só Deus pode ter méritos infinitos. Logo, o homem seria divino. O que é uma conclusão gnóstica ou panteísta. De qualquer modo, absurda.

Logo, a Reencarnação é uma falsidade."

R- Mais uma vez vale afirmar que nas religiões cristãs tradicionais, os homens criaram um Deus à sua imagem e semelhança. Isso, somado à total ausência de uma noção de causa e efeito, conduz a equívocos teóricos que são não apenas pueris, como ridículos. Tais equívocos acabam sendo guindados pela vaidade tola de seus autores à categoria de teologia

A questão, tratada sob uma ótica verdadeiramente filosófica poderia ser resolvida da seguinte forma: Há ofensas físicas que consistem em danos materiais causados por uma pessoa a outra e ofensas morais que consistem em atingir alguém em sua honra. Ora, Deus é espírito e, consequentemente, impassível de sofrer ofensas físicas, logo quando se fala em ofender a Deus só se pode estar falando em ofensas morais. Ocorre que o alvo de uma ofensa moral é sempre e invariavelmente o orgulho de alguém. Destarte, para acreditarmos que o homem possa ofender a Deus, teríamos que admitir um Deus orgulhoso e rancoroso, o que é incompatível com a noção de perfeição infinita que dEle temos.

Mesmo que raciocinemos pela lógica esquálida dos teólogos e admitamos que se possa ofender a Deus e que tais ofensas tenham gravidade infinita decorrente da infinitude divina, temos que admitir que da mesma fonte decorra que Deus é perdão infinito. Por esse raciocínio, um perdão infinito anula uma ofensa de gravidade infinita.

Ninguém ofende a Deus. Deus é amor e o amor é compassivo. Deus é perdão e o perdão é a expressão mais nobre de sua grandeza, mas Deus também é justiça e, por isso, existe uma Lei de Harmonia Universal, dele emanada, mas impessoal como qualquer lei, regendo todos os fatos do universo,. A ela e unicamente a ela está subordinado nosso livre arbítrio, de sorte que, se com nossas ações comprometemos essa harmonia, contraímos um débito perante essa lei, débito esse que irá exigir reparação proporcional. Somente o mérito repara a falta. Um verdadeiro critério de justiça jamais exigiria que o mérito fosse infinito, mas tão somente proporcional ao erro.

Assim sendo, o homem é sim o redentor de si mesmo.

DÉCIMA SEXTA PERGUNTA.

"Se o homem fosse divino por sua natureza, como se explicaria ser ele capaz de pecado? A doutrina da reencarnação leva, então, à conclusão de que o mal moral provém da própria natureza divina. O que significa a aceitação do dualismo maniqueu e gnóstico. A reencarnação leva necessariamente à aceitação do dualismo metafísico, que é tese gnóstica que repugna à razão e é contra a Fé."

R- Observa-se na pergunta uma técnica intelectualmente desonesta de indução: inicialmente, na pergunta 13 o autor expressa uma posição estritamente pessoal, servindo-se da conjunção “se” por duas vezes – o que deixa claro que está levantando uma hipótese – tentando demonstrar com seu raciocínio que, em sua opinião, existindo reencarnação, cristo não seria o redentor, porque o homem seria o redentor de si mesmo e comparando essa posição a uma tese fundamental da Gnose. Posteriormente, na pergunta 15 cria uma polêmica, novamente baseada em raciocínios próprios, trazendo idéias de ofensa infinita e de mérito infinito e procurando aproximar a tese espírita das teses gnósticas. Ao iniciar a pergunta 16 com outra pergunta “Se o homem fosse divino por sua natureza...” acaba passando a idéia de que os espíritas são os defensores dessa tese. Na verdade, as teses são dele. Ele levantou esses questionamentos. O Espiritismo nada tem a ver com a gnose, muito menos com o maniqueísmo. Aliás, pensar assim denota desconhecimento completo de qualquer uma das doutrinas ou das três.

Quanto à Gnose – ou melhor falando às Gnoses, pois existem diversas escolas filosófico-religiosas sob essa designação – vale ressaltar que possui três teses fundamentais a embasar todo o corpo doutrinário:

1ª – A existência de um intermediário de Deus a organizar e dar forma ao mundo material, entidade essa responsável pela existência do mal que não pode ser atribuído à natureza divina.

2ª – A miséria do homem, prisioneiro da matéria, uma vez que a alma teria uma origem divina.

3ª – O apocalipse gnóstico, segundo o qual o mundo perverso seria consumido e substituído pelo reino divino.

Ora, o Espiritismo tem como ponto fulcral de sua doutrina a unicidade de Deus, sendo claro e inquestionável para qualquer iniciante nos estudos doutrinários que o mal tem origem única e exclusivamente na ignorância humana. Não existe nenhuma obra reconhecidamente espírita que fale da existência de seres intermediários entre o criador e a criação, nem muito menos responsáveis pela existência de um mal metafísico. Nesse sentido, as religiões cristãs tradicionais – católica, protestante e ortodoxa – estão bem mais próximas da Gnose, já que continuam acreditando no diabo que nada mais é que uma outra designação dada ao demiurgo gnóstico.

Além disso, o Espiritismo não considera, nem nunca considerou a matéria como uma prisão da alma. A matéria é um estágio de aprendizado, uma escola obrigatória na evolução do espírito. Por essa razão os espíritas têm a vida física em grande conta e a doutrina sempre foi impositiva quanto à necessidade de se zelar do corpo, da saúde, do bem estar físico, sob a ótica de que a matéria que ocupamos é um bem que nos é dado pelo criador para nosso próprio desenvolvimento e que somos responsáveis perante esse mesmo criador por tudo aquilo que fazemos a essa matéria. Em contrapartida, as religiões tradicionais sempre pregaram a mortificação do corpo sob a forma de jejuns, de abstinências e até mesmo de autoflagelação (os católicos entendem disso como ninguém). É certo que em todas as épocas da humanidade sempre existiram indivíduos inimigos do aprendizado e para esses pode parecer de bom tom depredar uma escola.

Por fim, não existe na Doutrina Espírita qualquer previsão apocalíptica. A Terra não será destruída, não haverá juízo final, nem condenações eternas.

Percebe-se, portanto, que o Espiritismo se afasta das Gnoses por seus fundamentos, por suas bases, em sua essência. Procurar aproximar as doutrinas em razão de algum detalhe doutrinário, muitas vezes comum a diversas religiões é como tentar aproximar o Islamismo do Budismo, somente porque ambas acreditam em Deus. É como igualar um fogão e um avião, porque ambos usam parafusos em suas estruturas.

No que diz respeito ao Maniqueísmo, que é também uma forma de Gnose, possivelmente uma interpretação mal digerida dos conceitos, fruto de leituras superficiais pode levar a uma falsa identificação com a Doutrina Espírita, em função da visão reencarnacionista presente nos preceitos maniqueus, segundo os quais, no terceiro estágio, após a separação entre espírito e matéria, o espírito que ainda não tiver adquirido suficiente conhecimento espiritual é condenado a reencarnar em novos corpos.

Quanto a isso, volta-se a insistir: o Espiritismo não criou e nem tem a exclusividade da tese da reencarnação. Essa verdade já era conhecida milênios antes de Cristo, por isso há que necessariamente se separar o joio do trigo e tal separação deve se dar sempre na essência, nunca na aparência.

Ora, preceito fundamental do maniqueísmo, muito mais que a reencarnação que tem caráter instrumental, é o dualismo bem/mal. Para essa doutrina, as duas faces são autônomas e se colocam em eterna oposição, fazendo com que o mundo seja uma mera conseqüência desse antagonismo. Nessa linha, o bem é personificado pelo espírito, enquanto o mal é personificado pela matéria, da qual o espírito fica prisioneiro durante certo período de tempo.

Vale então repetir mais uma vez: para o Espiritismo, o mal é meramente circunstancial, jamais autônomo. Tem sua origem na ignorância e tende a ser suprimido na medida do aperfeiçoamento constante. Para o Espiritismo, a matéria não personifica o mal, aliás, a matéria não personifica nada, ela é fluido cósmico condensado que sofre a ação do espírito e se presta a seu aperfeiçoamento em estágios sucessivos.

Fica completamente descaracterizada a ligação entre Espiritismo e Maniqueísmo, sendo importante ainda ressaltar que, se alguma das religiões cristãs bebeu nas fontes do Maniqueísmo, foi a Católica que tem em Agostinho de Tagasta um de seus doutores e finge ignorar que esse sim era um maniqueísta ferrenho e dedicado, até sua conversão (leia-se Da Cidade de Deus). Mesmo na atual doutrina católica é possível encontrar inúmeros traços dessa ligação promíscua, manifestados no ascetismo, na hierarquia e na condenação dos prazeres terrenos, principalmente do sexo, além, é claro, da crença absurda no diabo.

DÉCIMA-SÉTIMA PERGUNTA.

"É essa tendência dualista e gnóstica que leva os espíritas, defensores da reencarnação, a considerarem que o mal é algo substancial e metafísico, e não apenas moral. O que, de novo, é tese da Gnose."

R- Aparentemente, as pessoas não conhecem suas próprias crenças e se propõem a criticar as crenças alheias. Quem realmente acredita que o mal é substancial e metafísico, senão aqueles que acreditam na existência do diabo? Seria o problema novamente de ordem conceitual? Que se pode entender pelo adjetivo “substancial”? Notoriamente aquilo que tem substância, que tem existência em si mesmo. Ora, uma das mais elementares noções ensinadas pelo Espiritismo é a de que o mal provém unicamente da ignorância do homem, por isso se faz necessário o esforço pela reforma íntima, conquistada pelo aprendizado, e pela prática reiterada do bem.

Já para as religiões cristãs tradicionais, o mal está sempre personificado no diabo, que seria, esse sim, a substância metafísica, o mal substancial.

Chego a pensar que para algumas dessas religiões – notadamente maniqueístas – a crença no diabo é muito mais importante que a crença em Deus. Se, em algum momento, se conseguisse provar que o diabo não existe, elas também deixariam de existir, por perda de objeto, tamanha é a obstinação na existência do “inimigo” e na necessidade de derrotá-lo. Não conseguem perceber que a grande luta do homem é contra si mesmo, contra suas más inclinações, contra as paixões e os vícios que sustentam o mal em consciências doentes.

DÉCIMA-OITAVA PERGUNTA

"Se, reencarnando-se infinitamente, o homem tende à perfeição, não se compreende como, ao final desse processo, ele não se torne perfeito de modo absoluto, isto é, ele se torne Deus, já que ele tem em sua própria natureza essa capacidade de aperfeiçoamento infindo."

R- Comecemos por fazer alguns reparos de ordem doutrinária: o homem não reencarna infinitamente; reencarna indefinidamente, até atingir um estágio de aperfeiçoamento em que o processo reencarnatório não seja mais necessário. Continuemos por fazer alguns reparos na coerência da pergunta: se o homem reencarnasse infinitamente, não se poderia esperar a perfeição ao final desse processo, considerando-se que o que é infinito não tem final. Parece bastante lógico, mas, muitas vezes, a ansiedade em lançar o anátema acaba por embotar a razão e, aí, mais vale uma pergunta de efeito, que um raciocínio coerente.

DÉCIMA-NONA PERGUNTA

"A doutrina da reencarnação, admitindo várias mortes sucessivas para o homem, contraria diretamente o que Deus ensinou na Sagrada Escritura. Por exemplo, São Paulo escreveu: "O homem só morre uma vez" (Heb. IX, 27) Também no Livro de Jó está escrito: "Assim o homem, quando dormir, não ressuscitará, até que o céu seja consumido, não despertará, nem se levantará de seu sono" (Jó, XIV, 12)."

R- Primeiramente, cabe o questionamento sobre a origem divina das escrituras. Somente uma extrema obtusidade pode justificar que, no atual estágio de desenvolvimento intelectual da humanidade, alguns continuem a acreditar e a defender a idéia de que um único livro contenha a verdade absoluta sobre Deus e sobre todas as coisas do mundo.

Além disso, quem tem a exata noção de quanto já foi alterado das palavras originais, ao longo dos séculos, para servir aos intentos daqueles que se especializaram em manipular a fé alheia?

Como procedem os bibliófilos em relação às alegorias bíblicas que a ciência há muito já deitou por terra? A própria igreja de Roma já admitiu, por exemplo que a criação bíblica é apenas uma alegoria e que muitos trechos da bíblia devem ser interpretados e não tomados ao pé da letra. Apesar disso, os exegetas fundamentalistas continuam se apegando a passagens e a versículos para lançar anátema sobre as crenças alheias, sustentando esse ridículo discurso de “palavra de Deus”.

Por isso, entrar nesse debate é infrutífero e monótono. O que há de realmente proveitoso no que eles chamam de “sagrada escritura” está contido nos quatro Evangelhos e ali, mais de uma vez Jesus faz referência clara e precisa ao fato de que João Batista era Elias reencarnado. Esse tipo de citação os inimigos da reencarnação e do Espiritismo insistem em ocultar e em não comentar jamais, porque certamente não teriam argumentos para desmentir Jesus. De qualquer forma, desafio os fundamentalistas a apresentarem uma explicação diferente para o que está contido em Mateus, XI, 12 a15:

“E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

e em Mateus, XVII, 11 e 12:

“E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas; Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem.”

Nas duas citações a alusão a uma outra vinda de Elias é clara e não existe uma outra interpretação plausível, a não ser pela lógica da reencarnação. Apesar disso, muitos insistem em não ter ouvidos para ouvir. Isso, contudo, não muda a ordem das coisas e nem torna Jesus em um mentiroso.

VIGÉSIMA PERGUNTA

"Finalmente, a doutrina da reencarnação vai frontalmente contra o ensinamento de Cristo no Evangelho. Com efeito, ao ensinar a parábola do rico e do pobre Lázaro, Cristo Nosso Senhor disse que, quando ambos morreram, foram imediatamente julgados por Deus, sendo o mau rico mandado para o castigo eterno, e Lázaro mandado para o seio de Abraão, isto é, para o céu. ( Cfr. Lucas XVI, 19-31) E, nessa mesma parábola Cristo nega que possa alguma alma voltar para ensinar algo aos vivos."

R- A primeira observação que se deve fazer é que, como a própria pergunta já esclarece, trata-se de uma parábola, cuja essência mesma é a de ser figurativa. Somente tolos tomam parábolas ao pé da letra; porém, quando o fazem deixam de extrair delas o sentido profundo. É o que acontece no presente caso: O sentido profundo dessa parábola é demonstrar que não se pode servir a dois senhores, conforme se pode observar no versículo 13 do mesmo capítulo. A interpretação dos evangelhos deve ser feita de modo contextual, pois simplesmente destacando versículos, pode-se fazer um uso bastante desonesto das palavras.

Nesse sentido, convém, então, esclarecer que as palavras de Abraão não negam que possa alguma alma voltar para ensinar algo aos vivos. Diferente disso, ele assevera que se os irmãos não ouvem a Moisés e aos profetas, eles não acreditarão. É inclusive de se entender, por aí que o espírito do rico poderia voltar, mas de nada adiantaria. Atente-se, então, à última frase do versículo em que Abraão diz: “...ainda que algum dos mortos ressuscite”. Há que se fazer a imprescindível distinção entre dois conceitos: os judeus acreditavam na possibilidade da ressurreição que significava um homem morto simplesmente renascer, no mesmo corpo, nas mesmas condições de antes da morte, o que é uma ideia absurda. É essa idéia que Jesus nega na parábola, querendo dizer que não existe ressurreição, com o que nós, espíritas, concordamos plenamente.

Ressurreição, entretanto, é completamente diferente de reencarnação, que significa renascer em outro corpo, em outras circunstâncias, em outra época. Tentar tomar uma coisa pela outra é uma tentativa sofismática e leviana de induzir a erro aqueles que não tem de per si uma leitura mais atenta e mais clara.

Por fim, vale dizer que há uma passagem na própria parábola em que Abraão diz ao rico “Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado.” Ora, tendo por base essas palavras, se as tomarmos ao pé da letra, teremos que admitir que, a menos que tivesse sido dado ao rico a possibilidade de escolher antes de nascer, Deus, ao lhe conceder a riqueza, estaria automaticamente pré-condenando-o ao tormento eterno, o que é absurdo e totalmente atentatório á ideia de justiça que é inseparável do conceito que se deve ter de Deus.

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